A Corrida Implacável do Tempo: Um Conto sobre a Fuga dos Segundos
Todos os anos no seu aniversário, Laura ouvia os seus pais dizer “Lembro-me como se fosse ontem: o ano era 1985, o mundo vibrava ao ritmo de novas descobertas e tu, uma bebé de pouco mais de 3,500 Kg, davas os teus primeiros suspiros neste planeta fascinante.”
Quando olhava para trás, Laura sentia que o tempo voava a um ritmo alucinante.
Beleza efémera na dança do tempo.
Os ponteiros do relógio giram sem parar, como se fosse um maestro a guiar com a batuta a sinfonia frenética da vida. Cada “tic-tac” é um duro lembrete da passagem vertiginosa do tempo. Tempo este que é um ladrão furtivo de cada segundo que passa.
Todos os dias a Laura olha para um relógio de parede e fica hipnotizada pela dança incessante dos ponteiros. Pelo meio desta dança, é dominada por uma angústia crescente, como se cada segundo que passa a aproximasse de um abismo inelutável. A vida assemelhava-se a um automóvel que entra numa autoestrada, desgovernado, a circular em alta velocidade em direção a um destino incerto.
Na sua mente, as memórias desenrolavam-se como um filme em fast forward. A infância feliz e despreocupada, os sonhos magnificentes da juventude, os amores e desamores, as conquistas e os fracassos. De repente, parecia que tudo isto tinha acontecido num piscar de olhos, como se a vida fosse apenas um sopro fugaz na imensidade do tempo.
Laura sempre se questionou: “Para onde é que vai este tempo, tão rápido?! De que forma é que posso aproveitar cada segundo ao máximo?” A procura incessante por respostas concretas consumiu-a, impulsionando-a a procurar um significado para uma fuga incessante dos segundos.
Ao longo da sua jornada, encontrou refúgio na arte e cultura. Foi através da pintura, da escrita e da música que aprendeu a capturar a beleza efémera do presente, transformando a passagem do tempo em algo belo e significativo.
Laura chegou à conclusão de que o tempo não é um inimigo para ser combatido, mas sim um presente precioso para ser devidamente valorizado. Cada segundo é uma oportunidade para amar, aprender, criar, gritar e quiçá, deixar a sua marca no mundo.
Ao ver o tempo numa nova perspetiva, Laura decidiu desacelerar a corrida frenética da vida que a consumia diariamente. Começou a valorizar os pequenos detalhes da vida, a conectar-se com a natureza e a cultivar relações sinceras e genuínas. Aprendeu a desvalorizar aquilo que não tem qualquer importância e a dedicar o seu tempo àquilo que realmente lhe trazia alegria e realização pessoal.
A vida ainda corria, mas a Laura conseguiu acompanhar esta maratona, aproveitando cada passo da sua jornada. O tempo já não era um ladrão, mas sim um companheiro de viagem, conduzindo-a em direção a uma vida mais plena e significativa.
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