Quanto vale um simples “Olá”?

“Olá”, saudação universal

Vivemos temos de constante agitação e mudança, onde a correria do dia-a-dia, as obrigações e as preocupações muitas vezes nos distanciam das relações mais próximas - literalmente, dos nossos vizinhos. Tal como eu, há quem resida no mesmo prédio há décadas e nem sequer sabe o nome do vizinho do lado.

Esta manhã, ao entrar no elevador ao sair de casa, encontrei uma mulher com cerca de 30 e poucos anos acompanhada por uma criança de pouco mais de 5 anos. Ambas vinham dos andares superiores do prédio. Ao entrar, cumprimentei-as com um entusiástico “Olá, bom dia!”. Para minha surpresa, a resposta foi puramente corporal: aquela jovem mulher simplesmente inclinou a cabeça, sem fazer o mínimo esforço para retribuir o cumprimento. O comportamento pode parecer estranho, mas, infelizmente, já não me espanta. O que me preocupa é a normalização deste comportamento, que parece estar se está a tornar uma tendência padrão na nossa sociedade.

Mas afinal, o que terá acontecido com o bom costume de cumprimentar os vizinhos com um simples “ Olá”, um agradável “Bom dia” ou uma reconfortante “Boa Noite”?

De acordo com o dicionário da Porto Editora, “Cumprimento” é um nome masculino cujo significado é:

  1. Ato ou efeito de cumprir; observância; execução completa

  2. gesto ou palavra de saudação

  3. elogio

  4. lisonja

  5. felicitações; saudações

Se pensarmos bem, o cumprimento é um gesto pequeno, quase automático, mas com um significado enorme. É um gesto que nos é transmitido pelos nossos pais desde tenra idade a praticá-lo com todas as pessoas. É uma forma de mostrar respeito, reconhecimento e, sobretudo, humanidade. É como dizer: Eu vejo-te, sei que existes e reconheço a tua presença”. No entanto, este gesto parece ter-se tornado raro, invulgar e, atrevo-me a afirmar, por vezes, absurdo.

O simples gesto de cumprimentar outrem é, muitas vezes substituído por olhares mais tímidos, por vezes, invasivos ou, como aconteceu hoje, pela total indiferença. 

Crianças em saudação

Sinto que ao longo dos anos, algo essencial tem-se vindo a perder - aquele sentimento de pertença e comunidade que outrora reinava entre a vizinhança. Lembro-me perfeitamente que antigamente as pessoas não só se cumprimentavam, como trocavam palavras de circunstância, partilhavam histórias e angústias. Atualmente, pratica-se o oposto. Lidamos com a frieza e indiferença com que muitos de nós passamos por quem vive o nosso ao nosso lado. Isto sim é verdadeiramente assustador e peculiar.

Por que razão deixámos de cumprimentar? Tenho tentado encontrar resposta a esta questão, mas ainda não a “descobri”. Será a pressa que nos impede de perder esses segundos a sorrir e a cumprimentar? Será o autocentramento crescente que nos afasta de quem está ao nosso redor? Ou será simplesmente uma falta de hábito, que, aos poucos, foi morrendo no meio da modernidade?

Apesar de ser mais fácil apontar o dedo à falta de tempo ou à timidez, a verdade é que a boa educação nunca sai de moda. É bonita de se ver e de se pôr em prática. Ao cumprimentar hoje aquele vizinho que nunca vi no prédio, quiçá não possa ser o ponto de partida para uma amizade ou, pelo menos, para um ambiente de maior harmonia no prédio, no bairro, na comunidade, ou até mesmo na cidade?

Creio que também é uma questão de segurança e bem-estar. Cumprimentar e interagir com quem vive ao nosso redor. Contribui para uma sensação de comunidade, pertença e proteção mútua. Num mundo cada vez mais impessoal, onde as interações muitas vezes se limitam ao digital, a proximidade física entre vizinhos ganha cada vez mais importância.

No final, é uma questão de escolhermos que tipo de sociedade queremos construir. Queremos viver enclausurados no nosso universo particular, sem dar o devido valor às pessoas que partilham connosco o nosso espaço, ou preferimos criar laços, por mais simples que sejam? Não é preciso muito - basta um sorriso, um gesto, uma palavra educada. Basta um “Olá”.

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